sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dia do Professor, não é para comemorar é para pensar e debater a respeito

KEKA WERNECK - Dia do professor, um super-herói oprimido.

Dia do Professor, um super-herói oprimido
Data suscita reflexões sobre prática da docência e o que o Brasil quer dessa categoria

Por Keka Werneck, da Assessoria de Imprensa do Centro Burnier Fé e Justiça


Quem é esse profissional que, sob pressão, assume, em sua rotina, a responsabilidade de levar a sociedade brasileira à frente de seu tempo?
É possível cumprir esse grandioso papel sendo oprimido pelo sistema?
Observando o perfil dos professores e professoras da rede pública de ensino em Mato Grosso, dá para notar de imediato que a maioria nessa área é mulher (18.028). O número de homens é três vezes inferior (5.439).
A maioria dos efetivos tem entre 41 e 50 anos (48,50%), ou seja, está envelhecendo. Entre os interinos (contratados), pelo contrário, a maioria é jovem de 18 a 30 anos (70,53%).
Para lecionar em escolas estaduais, o professor entra na carreira já recebendo o piso de R$ 1.135, por 30 horas, mas boa parte dos que lecionam nas redes municipais ganha bem menos que isso.
A maioria parte cumpre duas ou três jornadas de trabalho, para dar conta de pagar suas contas e sobreviver. Muitos dobram na rede pública e particular.
Acontece que a história não é feita somente pela maioria. Há uma diversidade enorme a ser considerada para compreender essa classe, que quer mais do que elogios da opinião pública.
Começa daí a complexidade dessa atividade feita por gente de todo jeito, que aglutina mais de 30 mil trabalhadores em Mato Grosso, entre mulheres, homens e pessoas de outras orientações sexuais, brancos, pretos e de demais descendências e etnias, jovens e maduros, com formação adequada ou não. É uma salada ideológica.
São muitos os assuntos que a data suscita, para além do salário. É preciso discutir o preocupante viés do gradativo adoecimento do professor em sala de aula. O cansaço físico e mental é um dos problemas mais apontados pela categoria, de quem é cobrada postura heróica, de salva-pátria.
Na rede privada, assusta o assédio moral, praticado pelas diretorias e também pelos alunos. Além disso, não há um projeto claro de formação continuada e muito menos de gestão democrática.
Em meio a essas complexidades, ao menos uma resposta é simples de dar: Não! Nessas condições não é possível alavancar a sociedade com a urgência do apelo que ela faz. O professor pode, no entanto, contribuir com avanços, já que a docência é uma profissão que envolve – ou deve envolver - paixão, esforço, entrega, solidariedade e senso de nação.
“A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. (Paulo Freire)

Angústias

A professora Régia Cristina kottel, 39 anos, formou-se em Letras, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Lecionar é seu projeto de vida. Em 2002, passou em concurso público, se efetivando na docência. Na prática, esse sonho se transforma em pesadelo, quando percebe essa insistente cobrança da sociedade. “Isso me angustia tanto. É tudo encima da gente. É mesmo muita cobrança e, por outro lado, o que temos em troca é desvalorização. Isso deixa a gente lá embaixo. Na escola estamos reféns desses sentimentos, não temos autonomia”, reclama.
“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”. (Rubem Alves)
O historiador Robinson Ciréia, 33, que leciona, como interino, em duas das maiores escolas públicas de Mato Grosso, que é o Liceu Cuiabano e a Escola Estadual Nilo Póvoas, critica o discurso que centraliza na educação a resolução de todos os problemas sociais. Sobretudo aquele que enxerga somente a relação entre o professor e o aluno. “Educação é algo muito maior do que isso. Tem o pai e a mãe envolvidos. Tem o Governo e a sociedade. Então, na verdade, vários fatores interferem na educação de um povo”, explica. Segundo ele, o professor sozinho, nessa relação com o aluno, contribui, mas não resolve o mundo.
Na sala de aula, todas as questões sociais aparecem, porque há diversidade entre os alunos e os docentes. “Então, é difícil mudar essa juventude que já chega na escola carregada de cultura”. Ciréia cita, por exemplo, que alguns pais vendem o voto e o aluno leva esse tipo de pensamento para a sala de aula. “No meio disso, o que agonia o professor é querer dar conta de tudo. Não dá. O que ele deve fazer, na minha opinião, é respeitar a diversidade, combater idéias preconceituosas e trabalhar para criar consciência crítica nos alunos”. Para Ciréia, isso em si já é bastante trabalhoso.

Bandeiras de luta

Se a sociedade quer, de fato, valorizar o professor, a categoria sabe indicar como. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep/MT), professor Gilmar Soares, aponta as quatro principais bandeiras de luta: plano de carreira, salário, formação continuada e gestão democrática. Essas bandeiras, juntas, fortalecem a luta central que é a valorização profissional.


“Sem essas conquistas, o terreno fica fértil para as dificuldades no exercício da profissão”, diz o sindicalista.
Sem um salário digno, a tendência é a busca pela dupla ou tripla jornada. “Se o professor estiver trabalhando em vários lugares, não dá conta de se envolver com a escola e é por isso que o Sintep defende a dedicação exclusiva”, explica Gilmar, reconhecendo, no entanto, que, para sobreviver, hoje fica difícil romper com este comportamento.
O piso na rede estadual de Mato Grosso é R$ 1.135, por 30 horas, sendo 10 de hora atividade, o que o coloca entre os quatro melhores do país. Mas nem toda a classe é contemplada.
* Hora atividade é o tempo que o professor usa para preparar as aulas e outras atividades pedagógicas.
Nas redes municipais, o salário geralmente é menor que o piso estadual.
O salário de Regina Kottel, por exemplo, é R$ 787. Ela leciona na Escola Municipal Edson Ferreira de Carvalho, em Nova Canãa do Norte, a 696 quilômetros de Cuiabá. “Na nossa campanha salarial, foi o máximo que conseguimos aproximar do piso estadual”, lamenta.
A luta nacional é para que o piso do professor chegue a 1.312, sem levar em consideração regionalidades. O entendimento é que, querendo um professorado capaz de arcar com a responsabilidade diária, nenhum deve receber menos que isso.
Gilmar acredita que a rede pública orienta o mercado de modo geral, pedagogicamente e do ponto de vista salarial também.
O que se faz no ensino público de alguma forma reflete no particular.
Há, porém, diferença de realidades.
No ensino privado, professores, de modo geral, recebem menores salários, sofrem mais com assédio moral e não têm estabilidade. Por outro lado, trabalham, em geral, em ambiente mais equipados, salas climatizadas e com acesso a computadores.
Isso, porém, não é alento, lembrando ainda que muitas escolas particulares também têm infraestrutura precária.
“São muitos os problemas no setor privado”. É o que diz a professora Nara Teixeira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino de Mato Grosso (Sintrae-MT). Segundo ela, há escolas que pagam bem, mas em geral o salário ainda é inferior ao piso do Estado.
O ensino privado divide a categoria assim. Quem leciona para a Educação Infantil está na base da pirâmide, com R$ 7,89 por hora-aula. No topo, professores do Ensino Médio, que recebem R$ 12,20. Esses valores são orientados pelo Sintrae, conforme acordo coletivo em vigor. Mas isso também não se aplica em toda a base. E o pior, no setor privado os professores não têm hora atividade. Por 30 horas em sala de aula, o piso é R$ 1.228.
Jornadas duplas e triplas também são muito comuns. Por isso, os professores da rede privada lutam para unificar o calendário de férias, caso contrário, nunca conseguem descansar por 30 dias.
O assédio moral é uma constante. Há muitas denúncias registradas no Sintrae. “Já aconteceu comigo. Ninguém me contou. O aluno mandou que eu falasse sobre outras coisas, porque ele está me pagando”, conta Nara. “De outra vez, você pede silêncio ou atenção e o aluno manda você ir tomar no c...Quer dizer, os alunos filhos da burguesia também levam para a sala de aula outros problemas sociais e isso também faz da nossa profissão muito extenuante.”



A lógica de mercado é que permite tal ataque ao professor. É a escola assumindo a posição de uma empresa qualquer, tendo que agradar ao cliente. “Educação não é mercadoria. Para entrar nesse ramo, é preciso entender o papel social de educar”, diz Nara.
No ensino particular, muitos reclamam da falta de liberdade em sala de aula. Outros garantem que precisam bater meta, ou seja, passar o maior número de alunos possível. A reprovação pode ser ruim para a imagem da escola-empresa. “Isso é uma afronta à educação”, reage a sindicalista.
Pesquisas também apontam para o adoecimento de professores que lecionam em escolas particulares. “Eles ficam muito tempo em pé. Há superlotação das salas. Algumas têm até 50 alunos. Imagine falar para esse público, muitas vezes sem o devido equipamento. Mas a depressão e a LER (Lesão por Esforço Repetitivo) são as enfermidades mais constantes”, diz Nara.

Gestão democrática

O ideário sobre gestão democrática na escola vem justamente para aliviar os ombros dos professores, dando responsabilidades a toda a comunidade escolar na construção do ensino. Seria a vivência em debates, estabelecidos em espaços como conselhos deliberativos, formados pela direção, por docentes, funcionários, alunos, pais e lideranças da comunidade.
Para o professor Robinson Ciréia isso não ocorre por uma série de questões. “O que vejo acontecer são imposições da secretaria e a falta de entendimento do que seja uma gestão democrática”. Na visão dele, a direção da escola pode até estar inclinada a ser mais democrática, porém isso exige trabalho de mobilização e tempo disponível. No entanto, todos estão sobrecarregados de trabalho, quase sempre. O modelo produtivista imposto rouba tempo e impede que o modelo democrático se viabilize.
"Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez pudéssemos nos entender melhor." (José Saramago)
No setor privado, segundo Nara Teixeira, gestão democrática é coisa que não existe. Quem manda é a direção. Democratizar as relações é assunto que ainda não está pautado.

Problemas em sala de aula

A indisciplina e a falta de limites incomodam a professora Régia Kottel em sala de aula. Segundo ela, no dia a dia, aluno que não para de falar, que não tem atenção no assunto, que reage com falta de respeito e que rejeita o não como resposta cansa demais. Somando isso à questão do número excessivo de alunos por turma, a rotina do professor pode virar um caos. “No interior acredito que a situação seja mais calma”, diz ela, que mora em Nova Canãa. “Mas, mesmo assim, é uma carga muito pesada. Imagina lidar com mais de 29 adolescentes de uma só vez, sem algumas regras?”.
Por outro lado, alunos apáticos e facilmente domesticáveis, sem iniciativa e intelectualmente frágeis é que incomoda o professor Salvador Flávio Pereira da Silva, 47 anos, geógrafo. Salvador está se especializando em Psicopedagogia. Ele leciona do 7º ao 9º ano na Escola Municipal Dejane Ribeiro, no bairro Jardim Vitória, periferia de Cuiabá. No entanto, lida bem com a agressividade, que poderia ser um problema óbvio para o senso comum, por se tratar de uma unidade escolar periférica. “Adolescentes têm essa – digamos – agressividade mesmo. Isso é tranquilo, precisam ser compreendidos. O que me chateia é ver esses meninos e meninas passivos, que não reagem. A gente não pode deixar isso perpetuar, senão vamos formar que tipo de cidadãos?”- questiona Salvador.
"A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe." (Jean Piaget)
Segundo Salvador, na sala de aula o professor tem um papel fundamental, transformador. Como geógrafo, busca, através de sua disciplina, falar sobre tudo: sobre a família, a comunidade, a cidade e o mundo. “Sobre meio ambiente, por exemplo, dá para tratar sobre camada de ozônio e também sobre o lixo ali da esquina, ou seja, uma experiência que eles têm todos os dias”.
"O saber que não vem da experiência não é realmente saber". (Lev Vygotsky)

O que não pode acontecer, na opinião de Salvador, mas acontece todos os dias, é o professor e a professora terem que resolver assuntos familiares. “Os pais vão repassando incumbências que seriam da família e, ao mesmo tempo, não participam da vida escolar, para que esse projeto de ensino seja construído junto. E, em alguns casos, ainda atacam a escola, embora no dia a dia sejam omissos”.
Segundo Nara Teixeira, isso não é diferente no setor privado.
Salvador continua dizendo que muitos gestores e professores também se acomodam e entram em um processo pragmático, que limita a visão sobre o que seja educar em sua amplitude.
Desta forma, a comunidade se afasta da escola, vista apenas como “depósito” de filhos, e a escola, por sua vez, não dá conta de chamar essa comunidade para o diálogo.

Paixão por lecionar

A contradição na docência se dá justamente porque é uma profissão de extremos. Se por um lado trabalhista castiga, por outro realiza.
“A gente vive bons momentos com os alunos e a maioria deles são muito interessantes”, assegura Regina Kottel. Além disso, completa ela, “essa paixão pela sala de aula está no sangue”.
“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. (Cora Coralina)
Regina fica triste quando vê o abandono da profissão. Segundo ela, é muita gente indo embora, preferindo outros campos profissionais, menos tensos, melhor remunerados. Ela diz ainda que outros colegas ficam, mas, no íntimo, desejam largar tudo também, mudar de ofício, esquecer o compromisso imposto, que agora, ao invés de alegria, adoece corpo e alma.
“A compreensão sobre a função social da docência resolve muitas angústias”, afirma Nara Teixeira. Segundo ela, valorização financeira não há, mas sim o compromisso transformador, que é muito realizador.
Apesar dos problemas, o professor Ciréia garante que isso não o desanima. “Eu gosto muito de ser professor. Fico muito orgulhoso de ser chamado na rua de professor, tomo isso como elogio. A maioria de nós já teve um professor na vida e os professores são aqueles que ficam em nosso imaginário, como pessoas importantes, que fizeram diferença para nós. Isso é muito bom. Assim como é bom ter a oportunidade de dialogar com essa juventude, ensinar e aprender com ela, nesse espaço de liberdade que ainda é a sala de aula”.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Abaixo assinado

 A campanha de difamação e maledicência desencadeada pelo PSDB/DEM contra a candidata Dilma é repugnante. Na ânsia de reverter a seu favor os votos dos eleitores, os serristas estão difundindo inverdades sobre o posicionamento de Dilma/Temer acerca de questões religiosas. Ao mesmo tempo, ressuscitam temas polêmicos acerca de valores morais e éticos que não condizem com a realidade social do século XXI. Eles estão usando Deus, religião e família de forma hipócrita para satisfazer seus interesses eleitorais, colocando, inclusive, de forma indevida temas que são da alçada do Poder Legislativo como se fossem do Poder Executivo. Ou seja, tentam desinformar e confundir a população. Somos contra esses procedimentos, pois acreditamos que a Eleição é para discutir política. Embora os valores morais, éticos e religiosas permeiam todas as discussões, eles não podem ser usados para distorcer idéias e propostas políticas e, muito menos para enganar o povo. Nós, abaixo-assinados queremos que a campanha tenha um debate qualificado, no campo político-econômico, social e cultural. Queremos que sejam reveladas, ao povo, as propostas das duas coligações. Se você concorda conosco, numere e assine abaixo e remeta o e-mail a todos de sua caixa postal. Formemos uma corrente do bem.


1- Paulo Augusto Mário Isaac - Rondonópolis/MT

2- Mauro Cesar Campos - Rondonópolis/MT

3- Francisco Xavier de Araújo - Rondonópolis/MT

4- Delcimar Borges - Rondonópolis/MT

5- José Valentim Fernandes da Silva - Rondonópolis/MT

6- João Garcia de Souza - Rondonópolis/MT

7- Paulo Sérgio Soares - Rondonópolis/MT

8- Wilson Luiz Riva - Rondonópolis/MT

9- Dirceu Coelho - Rondonópolis/MT

10- José de Fátima - Rondonópolis/MT

11- Baltazar de Melo - Rondonópolis/MT

12- Aparecida Lemos - Rondonópolis/MT

13- Edson Cardoso - Rondonópolis/MT

14- Antonio Fernandes de Moraes - Rondonópolis/MT

15- Cleomar de Lima Carvalho - Rondonópolis/MT

16- Martiniano Francisco Martins - Rondonópolis/MT

17- Paulo Augusto Mário Isaac - Rondonópolis/MT

18- Luzinete Rodrigues da Silva - Rondonópolis/MT

19- Juvenal Paiva da Silva - Rondonópolis/MT

20- Maria Cristina de Ávila - Rondonópolis/MT

21- Caius H. Pístori - Rondonópolis/MT

22- José Alves Teodoro - Rondonópolis/MT

23- Regina Celia Farias Mingareli- Rondonópolis- MT

24- Ricardo Klinkerfus Filho

25- Beatriz dos Santos de Oliveira Feitosa Sonora - MS

sábado, 9 de outubro de 2010

Manifesto de Reitores das Universidades Federais, à Nação Brasileira

Da pré-escola ao pós-doutoramento – ciclo completo educacional e acadêmico de formação das pessoas na busca pelo crescimento pessoal e profissional – consideramos que o Brasil encontrou o rumo nos últimos anos, graças a políticas, aumento orçamentário, ações e programas implementados pelo Governo Lula com a participação decisiva e direta de seus ministros, os quais reconhecemos, destacando o nome do Ministro Fernando Haddad.

Aliás, de forma mais ampla, assistimos a um crescimento muito significativo do País em vários domínios: ocorreu a redução marcante da miséria e da pobreza; promoveu-se a inclusão social de milhões de brasileiros, com a geração de empregos e renda; cresceu a autoestima da população, a confiança e a credibilidade internacional, num claro reconhecimento de que este é um País sério, solidário, de paz e de povo trabalhador. Caminhamos a passos largos para alcançar patamares mais elevados no cenário global, como uma Nação livre e soberana que não se submete aos ditames e aos interesses de países ou organizações estrangeiras.

Este período do Governo Lula ficará registrado na história como aquele em que mais se investiu em educação pública: foram criadas e consolidadas 14 novas universidades federais; institui-se a Universidade Aberta do Brasil; foram construídos mais de 100 campi universitários pelo interior do País; e ocorreu a criação e a ampliação, sem precedentes históricos, de Escolas Técnicas e Institutos Federais. Através do PROUNI, possibilitou-se o acesso ao ensino superior a mais de 700.000 jovens. Com a implantação do REUNI, estamos recuperando nossas Universidades Federais, de norte a sul e de leste a oeste. No geral, estamos dobrando de tamanho nossas Instituições e criando milhares de novos cursos, com investimentos crescentes em infraestrutura e contratação, por concurso público, de profissionais qualificados. Essas políticas devem continuar para consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano Federal, exigindo-se que os Estados e Municípios também cumpram com as suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação como uma prioridade central de seus governos.

Por tudo isso e na dimensão de nossas responsabilidades enquanto educadores, dirigentes universitários e cidadãos que desejam ver o País continuar avançando sem retrocessos, dirigimo-nos à sociedade brasileira para afirmar, com convicção, que estamos no rumo certo e que devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações.

Finalizamos este manifesto prestando o nosso reconhecimento e a nossa gratidão ao Presidente Lula por tudo que fez pelo País, em especial, no que se refere às políticas para educação, ciência e tecnologia. Ele também foi incansável em afirmar, sempre, que recurso aplicado em educação não é gasto, mas sim investimento no futuro do País. Foi exemplo, ainda, ao receber em reunião anual, durante os seus 8 anos de mandato, os Reitores das Universidades Federais para debater políticas e ações para o setor, encaminhando soluções concretas, inclusive, relativas à Autonomia Universitária.

Alan Barbiero – Universidade Federal do Tocantins (UFT)

José Weber Freire Macedo – Univ. Fed. do Vale do São Francisco (UNIVASF)

Aloisio Teixeira – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Josivan Barbosa Menezes – Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)

Amaro Henrique Pessoa Lins – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Malvina Tânia Tuttman – Univ. Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Ana Dayse Rezende Dórea – Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Maria Beatriz Luce – Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)

Antonio César Gonçalves Borges – Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

Maria Lúcia Cavalli Neder – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Carlos Alexandre Netto – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Miguel Badenes P. Filho – Centro Fed. de Ed. Tec. (CEFET RJ)

Carlos Eduardo Cantarelli – Univ. Tec. Federal do Paraná (UTFPR)

Miriam da Costa Oliveira – Univ.. Fed. de Ciênc. da Saúde de POA (UFCSPA)

Célia Maria da Silva Oliveira – Univ. Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Natalino Salgado Filho – Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Damião Duque de Farias – Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)

Paulo Gabriel S. Nacif – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)

Felipe .Martins Müller – Universidade Federal da Santa Maria (UFSM).

Pedro Angelo A. Abreu – Univ. Fed. do Vale do Jequetinhonha e Mucuri (UFVJM)

Hélgio Trindade – Univ. Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

Ricardo Motta Miranda – Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Hélio Waldman – Universidade Federal do ABC (UFABC)

Roberto de Souza Salles – Universidade Federal Fluminense (UFF)

Henrique Duque Chaves Filho – Univ. Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Romulo Soares Polari – Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Jesualdo Pereira Farias – Universidade Federal do Ceará – UFC

Sueo Numazawa – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)

João Carlos Brahm Cousin – Universidade Federal do Rio Grande – (FURG)

Targino de Araújo Filho – Univ. Federal de São Carlos (UFSCar)

José Carlos Tavares Carvalho – Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)

Thompson F. Mariz – Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

José Geraldo de Sousa Júnior – Universidade Federal de Brasília (UNB)

Valmar C. de Andrade – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

José Seixas Lourenço – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)

Virmondes Rodrigues Júnior – Univ. Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)

Walter Manna Albertoni – Universidade Federal de São Paulo ( UNIFESP)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dez falsos motivos para não votar na Dilma

          Normalmente não declaro meu voto, até porque acredito que a maior conquista democrática do povo foi o direito ao voto secreto, entretanto diante de algumas questões que vem sendo vinculadas pela internet, me sinto um pouco que no direito de socializar textos que partem de princípios nos quais a democracia é vista de forma mais aprofundada. Cabe a nós educadores pensarmos mais profundamente acerca dessas temática para não incorrermos no erro de sermos apenas reprodutores de ideias absurdas.

          Segue um texto para pensar um pouco mais acerca de políticas públicas no Brasil.


          Dez falsos motivos para não votar na Dilma - Por Jorge Furtado, cineasta.

          "Tenho alguns amigos que não pretendem votar na Dilma, um ou outro até diz que vai votar no Serra. Espero que sigam sendo meus amigos. Política, como ensina André Comte-Sponville, supõe conflitos: “A política nos reúne nos opondo: ela nos opõe sobre a melhor maneira de nos reunir”.
Leio diariamente o noticiário político e ainda não encontrei bons argumentos para votar no Serra, uma candidatura que cada vez mais assume seu caráter conservador. Serra representa o grupo político que governou o Brasil antes do Lula, com desempenho, sob qualquer critério, muito inferior ao do governo petista, a comparação chega a ser enfadonha, vai lá para o pé da página, quem quiser que leia. (1)
          Ouvi alguns argumentos razoáveis para votar em Marina, como incluir a sustentabilidade na agenda do desenvolvimento. Marina foi ministra do Lula por sete anos e parece ser uma boa pessoa, uma batalhadora das causas ambientalistas. Tem, no entanto (na minha opinião) o inconveniente de fazer parte de uma igreja bastante rígida, o que me faz temer sobre a capacidade que teria um eventual governo comandado por ela de avançar em questões fundamentais como os direitos dos homossexuais, a descriminalização do aborto ou as pesquisas envolvendo as células tronco.
           Ouço e leio alguns argumentos para não votar em Dilma, argumentos que me parecem inconsistentes, distorcidos, precários ou simplesmente falsos. Passo a analisar os dez mais freqüentes:
           1. “Alternância no poder é bom”.
Falso. O sentido da democracia não é a alternância no poder e sim a escolha, pela maioria, da melhor proposta de governo, levando-se em conta o conhecimento que o eleitor tem dos candidatos e seus grupo políticos, o que dizem pretender fazer e, principalmente, o que fizeram quando exerceram o poder. Ninguém pode defender seriamente a idéia de que seria boa a alternância entre a recessão e o desenvolvimento, entre o desemprego e a geração de empregos, entre o arrocho salarial e o aumento do poder aquisitivo da população, entre a distribuição e a concentração da riqueza. Se a alternância no poder fosse um valor em si não precisaria haver eleição e muito menos deveria haver a possibilidade de reeleição.
          2. “Não há mais diferença entre direita e esquerda”.
Falso. Esquerda e direita são posições relativas, não absolutas. A esquerda é, desde a sua origem, a posição política que tem por objetivo a diminuição das desigualdades sociais, a distribuição da riqueza, a inserção social dos desfavorecidos. As conquistas necessárias para se atingir estes objetivos mudam com o tempo. Hoje, ser de esquerda significa defender o fortalecimento do estado como garantidor do bem-estar social, regulador do mercado, promotor do desenvolvimento e da distribuição de riqueza, tudo isso numa sociedade democrática com plena liberdade de expressão e ampla defesa das minorias. O complexo (e confuso) sistema político brasileiro exige que os vários partidos se reúnam em coligações que lhes garantam maioria parlamentar, sem a qual o país se torna ingovernável. A candidatura de Dilma tem o apoio de políticos que jamais poderiam ser chamados de “esquerdistas”, como Sarney, Collor ou Renan Calheiros, lideranças regionais que se abrigam principalmente no PMDB, partido de espectro ideológico muito amplo. José Serra tem o apoio majoritário da direita e da extrema-direita reunida no DEM (2), da “direita” do PMDB, além do PTB, PPS e outros pequenos partidos de direita: Roberto Jefferson, Jorge Borhausen, ACM Netto, Orestes Quércia, Heráclito Fortes, Roberto Freire, Demóstenes Torres, Álvaro Dias, Arthur Virgílio, Agripino Maia, Joaquim Roriz, Marconi Pirilo, Ronaldo Caiado, Katia Abreu, André Pucinelli, são todos de direita e todos serristas, isso para não falar no folclórico Índio da Costa, vice de Serra. Comparado com Agripino Maia ou Jorge Borhausen, José Sarney é Che Guevara.
          3. “Dilma não é simpática”(?)
Argumento precário e totalmente subjetivo. Precário porque a simpatia não é, ou não deveria ser, um atributo fundamental para o bom governante. Subjetivo, porque o quesito “simpatia” depende totalmente do gosto do freguês. Na minha opinião, por exemplo, é difícil encontrar alguém na vida pública que seja mais antipático que José Serra, embora ele talvez tenha sido um bom governante de seu estado. Sua arrogância com quem lhe faz críticas, seu destempero e prepotência com jornalistas, especialmente com as mulheres, chega a ser revoltante.
          4. “Dilma não tem experiência”.
Argumento inconsistente. Dilma foi secretária de estado, foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, fez parte do conselho da Petrobras, gerenciou com eficiência os gigantescos investimentos do PAC, dos programas de habitação popular e eletrificação rural. Dilma tem muito mais experiência administrativa, por exemplo, do que tinha o Lula, que só tinha sido parlamentar, nunca tinha administrado um orçamento, e está fazendo um bom governo.
5. “Dilma foi terrorista” (foi contra os assassinos).
Argumento em parte falso, em parte distorcido. Falso, porque não há qualquer prova de que Dilma tenha tomado parte de ações “terroristas”. Distorcido, porque é fato que Dilma fez parte de grupos de resistência à ditadura militar, do que deve se orgulhar, e que este grupo praticou ações armadas, o que pode (ou não) ser condenável. José Serra também fez parte de um grupo de resistência à ditadura, a AP (Ação Popular), que também praticou ações armadas, das quais Serra não tomou parte. Muitos jovens que participaram de grupos de resistência à ditadura hoje participam da vida democrática como candidatos. Alguns, como Fernando Gabeira, participaram ativamente de seqüestros, assaltos a banco e ações armadas. A luta daqueles jovens, mesmo que por meios discutíveis, ajudou a restabelecer a democracia no país e deveria ser motivo de orgulho, não de vergonha.
6. “As coisas boas do governo petista começaram no governo tucano” (mentira).
Falso. Todo governo herda políticas e programas do governo anterior, políticas que pode manter, transformar, ampliar, reduzir ou encerrar. O governo FHC herdou do governo Itamar o real, o programa dos genéricos, o FAT, o programa de combate a AIDS. Teve o mérito de manter e aperfeiçoá-los, desenvolvê-los, ampliá-los. O governo Lula herdou do governo FHC, por exemplo, vários programas de assistência social. Teve o mérito de unificá-los e ampliá-los, criando o Bolsa Família. De qualquer maneira, os resultados do governo Lula são tão superiores aos do governo FHC que o debate “quem começou o quê” torna-se irrelevante.
7. “Serra vai moralizar a política” (ridículo).
Argumento inconsistente. Nos oito anos de governo tucano-pefelista - no qual José Serra ocupou papel de destaque, sendo escolhido para suceder FHC - foram inúmeros os casos de corrupção, um deles no próprio Ministério da Saúde, comandado por Serra, o superfaturamento de ambulâncias investigado pela “Operação Sanguessuga”. Se considerarmos o volume de dinheiro público desviado para destinos nebulosos e paraísos fiscais nas privatizações e o auxílio luxuoso aos banqueiros falidos, o governo tucano talvez tenha sido o mais corrupto da história do país. Ao contrário do que aconteceu no governo Lula, a corrupção no governo FHC não foi investigada por nenhuma CPI, todas sepultadas pela maioria parlamentar da coligação PSDB-PFL. O procurador da república ficou conhecido com “engavetador da república”, tal a quantidade de investigações criminais que morreram em suas mãos. O esquema de financiamento eleitoral batizado de “mensalão” foi criado pelo presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo, hoje réu em processo criminal. O governador José Roberto Arruda, do DEM, era o principal candidato ao posto de vice-presidente na chapa de Serra, até ser preso por corrupção no “mensalão do DEM”. Roberto Jefferson, réu confesso do mensalão petista, hoje apóia José Serra. Todos estes fatos, incontestáveis, não indicam que um eventual governo Serra poderia ser mais eficiente no combate à corrupção do que seria um governo Dilma, ao contrário.
8. “O PT apóia as FARC” (mais ridículo ainda).
Argumento falso. É fato que, no passado, as FARC ensaiaram uma tentativa de institucionalização e buscaram aproximação com o PT, então na oposição, e também com o governo brasileiro, através de contatos com o líder do governo tucano, Arthur Virgílio. Estes contatos foram rompidos com a radicalização da guerrilha na Colômbia e nunca foram retomados, a não ser nos delírios da imprensa de extrema-direita. A relação entre o governo brasileiro e os governos estabelecidos de vários países deve estar acima de divergências ideológicas, num princípio básico da diplomacia, o da auto-determinação dos povos. Não há notícias, por exemplo, de capitalistas brasileiros que defendam o rompimento das relações com a China, um dos nossos maiores parceiros comerciais, por se tratar de uma ditadura. Ou alguém acha que a China é um país democrático?
9. “O PT censura a imprensa” (mentira, a imprensa que o censura).
Argumento falso. Em seus oito anos de governo o presidente Lula enfrentou a oposição feroz e constante dos principais veículos da antiga imprensa. Esta oposição foi explicitada pela presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) que declarou que seus filiados assumiram “a posição oposicionista (sic) deste país”. Não há registro de um único caso de censura à imprensa por parte do governo Lula. O que há, frequentemente, é a queixa dos órgãos de imprensa sobre tentativas da sociedade e do governo, a exemplo do que acontece em todos os países democráticos do mundo, de regulamentar a atividade da mídia.
10. “Os jornais, a televisão e as revistas falam muito mal da Dilma e muito bem do Serra”.
Isso é verdade. E mais um bom motivo para votar nela e não nele.

FATOS MUITO IMPORTANTES:

(1) Alguns dados comparativos dos governos FHC e Lula.
Geração de empregos:

FHC/Serra = 780 mil x Lula/Dilma = 12 milhões
Salário mínimo:

FHC/Serra = 64 dólares x Lula/Dilma = 290 dólares
Mobilidade social (brasileiros que deixaram a linha da pobreza):

FHC/Serra = 2 milhões x Lula/Dilma = 27 milhões
Risco Brasil:

FHC/Serra = 2.700 pontos x Lula/Dilma = 200 pontos

Dólar:

FHC/Serra = R$ 3,00 x Lula/Dilma = R$ 1,78
Reservas cambiais:

FHC/Serra = 185 bilhões de dólares negativos x Lula/Dilma = 239 bilhões de dólares positivos.
Relação crédito/PIB:

FHC/Serra = 14% x Lula/Dilma = 34%

Produção de automóveis:

FHC/Serra = queda de 20% x Lula/Dilma = aumento de 30%

Taxa de juros:

FHC/Serra = 27% x Lula/Dilma = 10,75%

Para pensar acerca da política no Brasil

                                                  Marina,... você se pintou?



                                                                                                                                 Maurício Abdalla [1]

          “Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo.
          Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias.
          Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.
          Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.
          Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.
          Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.
          “Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.
          Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.


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[1] Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros.

Reflexões acerca do significado da Democracia no Brasil

Acredito que o artigo abaixo traduz uma realidade do Brasil contemporâneo que precisa ser debatida para que não incorramos em velhos erros do passado.
É fundamental que salientamos o fato de que os programas sociais t(axados por aqueles que nunca viveram a realidade da fome, como assistencialistas), são a garantia do mínimo de dignidade para uma grande parcela da sociedade brasileira, excluída historicamente do processo produtivo neste país.


Maria Rita Kehl




          Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
          Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
          Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
          O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".

         Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
          Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.


Fonte: Estadão - http://www.estadao.com.br/