quarta-feira, 29 de abril de 2009

A Fronteira em Frederick Jackson Turner

A proposta da presente produção textual é sintetizar por meio dos textos trabalhados em sala de aula[1] o conceito de Fronteira em Turner, criando um diálogo com as questões abordadas pelo professor Barrozo e os textos de referência sugeridos para a compreensão da temática.
Em sua dissertação de mestrado Ávila[2], aponta para o fato de Turner (1862-1931), ser considerado o grande pai da historiografia moderna nos Estados Unidos. O autor nos apresenta a trajetória de Turner que lançou ao mundo sua Frontier Thesis, em 1893, durante uma feira de exposição em Chicago, postulando que o desenvolvimento histórico dos Estados Unidos havia se dado graças à existência das chamadas “terras livres” a Oeste, únicas em quantidade e extensão.[3]
Para WEGNER[4] a tese de fronteira de Turner contrastava com a mais importante visão acerca do assunto existente até aquele momento a de Herbert Baxter Adams, criador da chamada Escola Teutônica que interpretava a constituição da fronteira a partir de explicação genética, pois procurava as origens e causas das instituições norte-americanas no legado europeu transportado para o Novo Mundo. Nos moldes da Escola Teutônica a concepção de ciência estava fundamentada em teorias biológicas da época, segundo as quais a história só adquiriria seu status científico se alcançasse um tipo de explicação que remetesse à Europa.
Nesse contexto a tese de Turner apresenta uma idéia revolucionária, uma vez que o núcleo da sua teoria é que houve uma adaptação do europeu ao nativo, para sua posterior retomada do legado transatlântico, transformado, no entanto, pela experiência americana, que não teve ampla aceitação de imediato e só veio a ganhar simpatizantes anos depois da feira de Chicago, apontada anteriormente. Segundo WEGNER[5], as primeiras avaliações foram frias e formais, e somente uma década depois passou a ganhar simpatizantes, até alcançar, na segunda década de nosso século, uma aceitação generalizada entre os historiadores norte-americanos.[6]
Até então o conceito de fronteira era a de mapas, com Turner pôde ser vislumbrada a idéia de diferenças de fronteiras entre a Europa e os Estados Unidos. Na Europa o termo possuía uma forte conotação política, significando o limite que separa dois países, duas populações densas, ou duas civilizações. Nos Estados Unidos passou a significar uma linha divisória entre a terra povoada e a terra livre, ou do ponto de vista de encontro entre o civilizado e o primitivo.
Sendo assim, os valores da nação americana – a democracia e o individualismo- são alimentados pela fronteira e não pelo ideário dos imigrantes anglo-saxões. A dinâmica do processo não é explicada apenas pelas oportunidades abertas pela terra livre, mas também porque o “pioneiro” entra em contato com a simplicidade da sociedade primitiva, obrigando-se a adequar a padrões nativos em relação à natureza. Para WEGNER[7], a tese de Turner pode ser apreendida em três momentos distintos:
1º. De quase absoluta adaptação do adventício às condições fornecidas pelo ambiente e aos meios nativos, “pois na fronteira o ambiente é, a princípio, muito mais forte para o homem”;
2º. “Pouco a pouco”, o europeu pode transformar o ambiente com base, pode-se supor, nos meios fornecidos pelo seu legado transatlântico que passa a ser retomado;
3º. O produto americano, fruto do rearranjo da tradição européia sobre um fundamento de completa adequação aos padrões indígenas.
Para Turner, a selva e o deserto domina o colono, na fronteira o ambiente é, a princípio, muito mais forte que o homem. Este deve aceitar as condições que o ambiente fornece, ou perece, então, adapta-se às clareiras indígenas e segue suas trilhas, o que resulta disso é o fato de que os homens modificam a fronteira, na medida que são modificados pela mesma, por meio dessa dinâmica a demanda por terra e o amor à liberdade de wilderness, empurraram a fronteira cada vez mais para a frente.
Em um ensaio organizado por KNAUSS[8], tivemos condições de entrar em contato com a obra de Turner e notar que sua defesa se dá em torno de idéia de que a história da colonização americana foi, em grande medida a história da civilização do velho Oeste, as terras livres e o avanço da colonização em direção ao Oeste, explicam o desenvolvimento americano. As instituições americanas foram compelidas a se adaptarem às mudanças de um povo em expansão (para a travessia de um continente; o desbravamento de terras selvagens – wilderness - ; as condições econômicas e políticas da fronteira), desta forma, a fronteira seria “o pico da crista de uma onda”, o ponto de contato entre o mundo selvagem e a civilização.
Para Turner, o movimento histórico de deslocamento em direção à fronteira se encerrou em 1890.

“O que o mar mediterrâneo foi para os gregos - rompendo com as amarras da tradição, oferecendo novas experiências, fazendo surgir novas instituições e atividades - , a fronteira sempre em movimento tem sido diretamente para os Estados Unidos e mais remotamente para as nações da Europa. E, hoje, quatro séculos depois do descobrimento da América, ao final de cem anos de vida sob a égide da Constituição, a fronteira se foi e com seu desaparecimento se encerrou o primeiro período da história americana.”[9]

Devido à limitações que comportam o presente texto não nos aprofundamos por exemplo na forma como a idéia de fronteira em Turner influenciou a produção historiográfica no Brasil, entretanto não poderíamos deixar de citar a influência em obras de grande envergadura como as de Sérgio Buarque de Holanda. Encontramos no livro de WEGNER seguinte referência a relação entre a obra de Turner e Holanda:

“ Gostaria de realçar, antes de tudo, que nessa passagem se encontra o tema da adaptação ao nativo, ou seja, justamente o que considerei um dos momentos do núcleo da tese da fronteira, aplicado ‘em todo o Continente’. Em seguida, o autor alerta para as diferenças de intensidade desses ‘contatos’ com os antigos naturais da terra, reforçando a idéia de que ‘foram mais ou menos íntimos’ nas diferentes áreas coloniais e, nessa medida,’sua influência deve ter variado em grau correspondente’.
Aí sim, Sérgio Buarque explicita o exemplo norte-americano como contraponto, e o faz a partir de casos referidos exatamente por Jackson Turner.”[10]



[1] A discussão acerca da Fronteira em Turner se deu na disciplina “A Expansão (recente) da Fronteira Amazônica em Mato Grosso, ministrada pelo professor João Carlos Barrozo.
[2] ÁVILA, Arthur Lima de. E da Fronteira veio um Pioneira: a frontier theseis de Frederick Jackson Turner. (1861-1932). Dissertação de Mestrado, UFRS, Porto Alegre, 2006.
[3] ÁVILA. Op. Cit.
[4] WEGNER, Robert. Frederick Jackson Turner e o Oeste. In: A Conquista do Oeste. A Fronteira na obra de Sérgio Buarque de Holanda. Belo Horizonte: editora ufma, 2000. p.94-96.
[5] WEGNER. Op. Cit.
[6] Por meio das aulas foi possível notar que essa influência chegou ao Brasil e pode ser notada em obras como: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras 3.ed., São Paulo: Companhia das Letras, 1995. e HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed., São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

[7] WEGNER. Op. Cit.
[8] KNAUSS, Paulo. Oeste Americano: quatro ensaios de história dos Estados Unidos da América de Frederick Jackson Turner. Niterói: editora da Universidade Federal Fluminense,2004. p. 23-70.
[9] KNAUSS. Op. Cit. P. 54
[10] WEGNER. Op. Cit.

Um comentário:

Anônimo disse...

É nítido que Turner fez uma grande influencia para a historia ambiental, já muito estudada nos EUA, mas pouco desvendada no Brasil. Vale a pena estudar sobre ela e descobrir quais são seus maiores enfoques.