sexta-feira, 23 de abril de 2010

THOMPSON, Paul. A Voz do Passado - história oral (fichamento)

THOMPSON, Paul (1935-). A voz do passado - História Oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. 388 p.; 21 cm.
Convenções:
p. - número da página
( ) - referência de citações de outros autores
/ - simples separação antes de outra citação, sem ligação de sentido, na mesma página
[...] supressão de palavras ou frases para reduzir a citação sem perder o sentido
[ ] outros comentários ou definições do anotador das citações
Citações...
p. 11
"instigar os historiadores a se indagarem sobre o que estão fazendo e por quê. A reconstrução que fazem do passado baseia-se na autoridade de quem? E com vistas a quem ela é feita? Em suma, de quem é A voz do passado?"
p. 18
"Um dos aspectos mais polêmicos das fontes orais diz respeito a sua credibilidade. Para alguns historiadores tradicionais os depoimentos orais são tidos como fontes subjetivas por nutrirem-se da memória individual, que às vezes pode ser falível e fantasiosa. No entanto, a subjetividade é um dado real em todas as fontes históricas, sejam elas orais, escritas, ou visuais. O que interessa em história oral é saber por que o entrevistado foi seletivo, ou omisso, pois essa seletividade com certeza tem seu significado. Além disso, este século é marcado pelo avanço sem precedente nas tecnologias da comunicação, o que abalou a hegemonia do documento escrito." (prefácio de Sônia Maria de Freitas)
p. 19
"Nosso passado é nossa memória, disse Borges." (prefácio de Sônia Maria de Freitas)
p. 20
"o ameno turismo contemporâneo que excursiona pelo passado como se fosse mais um país estrangeiro para onde se evadir."
p. 23
"Quanto mais um documento fosse pessoal, local ou não-oficial, menor a probabilidade de que continuasse a existir. A própria estrutura de poder funcionava como um grande gravador, que modelava o passado a sua própria imagem."
p. 28
"O processo de escrever história muda juntamente com o conteúdo."
p. 30 a 31
"Uma coisa é saber que as ruas ou campos em torno de uma casa tinham um passado antes que ali tivesse chegado; bem diferente é ter tido conhecimento, por meio das lembranças do passado, vivas ainda na memória dos mais velhos do lugar, das intimidades amorosas por aqueles campos, dos vizinhos e casas em determinada rua, do trabalho em determinada loja."
p. 40
"fazer com que as pessoas confiassem nas próprias lembranças e interpretações do passado, em sua capacidade de colaborar para escrever a história - e confiar também em suas próprias palavras: em suma, em si mesmos."
p. 41
"Ela trata de vidas individuais - e todas as vidas são interessantes. E baseia-se na fala, e não na habilidade da escrita, muito mais exigente e restritiva."
/
"As palavras podem ser emitidas de maneira idiossincrática, mas, por isso mesmo, são mais expressivas. Elas insuflam vida na história."
p. 42
"A história local traçada a partir de um estrato social mais restrito tende a satisfazer-se com menos, a ser uma reafirmação do mito da comunidade."
p. 43
"A história não deve apenas confortar; deve apresentar um desafio, e uma compreensão que ajude no sentido da mudança."
/
"muito embora os velhos sobreviventes fossem livros ambulantes, eu não podia apenas folheá-los. Eles eram pessoas." (George Ewart Evans)
p. 49
"Ao localizar as coisas no tempo, não o fazia com datas do calendário, mas datava as coisas com acontecimentos físicos... uma inundação." (Alex Haley)
p. 50
"A memória foi rebaixada do status de autoridade pública para o de um recurso auxiliar privado. As pessoas ainda se lembram de rituais, nomes, canções, histórias, habilidades; mas agora é o documento que se mantém como autoridade final e como garantia de transmissão para o futuro."
p. 53
"Deixei de lado toda interação com os livros comuns. Se alguma vez digo coisas que ocorrem em qualquer livro, é em parte para manter o fio da narrativa de um modo menos complicado."(bispo Burnet)
p. 73
"Depois da conversa com homens de gênio e de profunda erudição, a conversa com o povo é certamente a mais instrutiva. [..] O que há para aprender com a classe média?" (Michelet)
p. 75
"não como o conhecido, mas como o conhecível. Para além, ainda há muita escuridão." (F. W. Maitland)
p. 77
"A autobiografia é a forma mais elevada e mais instrutiva em que nos defrontamos com a compreensão da vida." (Wilhelm Dilthey)
p. 88
"nem uma história fictícia, nem um relato de um passado morto; ele [o mito] é uma constatação de uma realidade maior em parte ainda viva." (Malinowski)
p. 102
"O historiador tradicional, em parte por desconfiar das teorias e preferir construir sua interpretação a partir de peças individuais de evidência colhidas onde quer que as possa localizar, é no fundo um eclético."
/
"um texto histórico baseado exclusivamente em fontes não-documentais, digamos a história de uma comunidade africana, pode ser mais superficial, menos satisfatório do que outro, extraído de documentos; mas é história do mesmo jeito." (Arthur Marwick)
p. 115
"o metalúrgico que gostaria que os nomes dos operários fossem gravados sobre aquilo que fazem ('Alguém construiu as pirâmides...') e que, isso não sendo possível, deixam aqui e ali 'um pequeno amassado (...) um erro, meu erro (...) minha assinatura neles, também'." (entrevista a Studs Terkel)
p. 137
"Enquanto os historiadores estudam os atores da história a distância, a caracterização que fazem de suas vidas, opiniões e ações sempre estará sujeita a ser descrições defeituosas, projeções da experiência e da imaginação do próprio historiador: uma forma erudita de ficção. A evidência oral, transformando os "objetos" de estudo em "sujeitos", contribui para uma história que não só é mais rica, mais viva e mais comovente, mas também mais verdadeira."
p. 150
"o processo de descarte, que constitui a contrapartida da seleção, continua pelo tempo afora. [...] Porém, o descarte inicial é, de longe, o mais drástico e violento."
p. 153 a 154
"Num mundo em que o meio ambiente está em constante mudança, a lembrança literal é extraordinariamente desimportante. Dá-se com a lembrança o mesmo que com o lance num jogo de destreza. Cada vez que o fazemos ele tem suas características peculiares." (Bartlett)
p. 158
"O verdadeiro objetivo dos sociólogos da história de vida, ou do historiador oral, deve ser revelar as fontes de viés, mais do que pretender que elas possam ser eliminadas."
p. 171
"Quanto mais uma pessoa esteja acostumada a apresentar uma imagem profissional pública, menos provável será que suas recordações pessoais sejam honestas e francas; por isso é que os políticos são testemunhas particularmente difíceis. Assim também os que, por meio da leitura, optaram por uma visão do passado que propagam profissionalmente - os historiadores e os professores. Eles podem ser as fontes mais ricas de sugestões, mas também as mais enganadoras."
p. 174
"Uma das mais profundas lições da história oral é a singularidade, tanto quanto a representatividade, de cada história de vida. Há algumas delas que são tão excepcionais que têm que ser gravadas, qualquer que seja o plano."
p. 179
"A natureza da memória coloca muitas armadilhas para os incautos [...] oferece[m] também recompensas inesperadas para um historiador que esteja preparado para apreciar a complexidade com que a realidade e o mito, o "objetivo" e o "subjetivo", se mesclam inextricavelmente em todas as percepções que o ser humano tem do mundo, individual e coletivamente."
p. 180
"a maioria das pessoas está menos interessada nos anos do calendário do que em si mesmas, e [que] não organizam suas memórias demarcadas por datas."
/
"as memórias são, regra geral, muito falíveis quanto a acontecimentos específicos e muito iluminadoras quanto ao caráter e à atmosfera, coisas em relação às quais os documentos são inadequados." (R. R. James)
p. 182
"Essa condensação na memória de dois eventos distintos em um constitui fenômeno muito comum."
p. 184
"Os boatos não sobrevivem, a menos que façam sentido para as pessoas."
/
"A importância do testemunho oral pode estar, muitas vezes, não em seu apego aos fatos, mas antes em sua divergência com eles, ali onde a imaginação e o simbolismo desejam penetrar." (Alessandro Portelli)
/
"aquilo que as pessoas imaginam que aconteceu, e também o que acreditam que poderia ter acontecido - sua imaginação de um passado alternativo e, pois, de um presente alternativo -, pode ser tão fundamental quanto aquilo que de fato aconteceu."
p. 185
"A construção e a narração da memória do passado, tanto coletiva quanto individual, constitui um processo social ativo que exige ao mesmo tempo engenho e arte, aprendizado com os outros e vigor imaginativo."
p. 187
"Nenhuma expressão humana, seja qual for, fica de fora de um gênero literário." (Vansina)
p. 188 a 189
"as vidas dos profetas africanos, por exemplo, podem transformar-se em mitos no prazo de três anos."
p. 190
"Acima de tudo, consciente ou inconscientemente, o mais provável é que memórias que são desabonadoras, ou positivamente perigosas, sejam tranqüilamente enterradas."
/
"É, sempre queremos que isso seja contado, mas, dentro de nós, estamos tentando esquecer; bem dentro, no mais profundo da mente, do coração. É instintivo: tentar esquecer, mesmo quando estamos fazendo os outros se lembrarem. É uma contradição, mas assim é que é." (Quinto Osano)
p. 191
"para uma comunidade ameaçada, a memória deve, antes de mais nada, servir para acentuar um sentimento de identidade comum, de modo que episódios de divisão e de conflito caem no esquecimento."
/
"A descoberta de distorção ou de supressão numa história de vida, uma vez mais é preciso ressaltar, não é puramente negativa. Até mesmo uma mentira é uma forma de comunicação."
p. 198
"para os historiadores, eles [bruxos e oráculos] representam o duplo desafio, profissional e pessoal, de profissões alternativas que manipulam o passado segundo regras diferentes."
p. 202
"a necessidade de maior sensibilidade histórica ao poder da emoção, do desejo, rejeição e imitação inconscientes, como parte integrante da estrutura da vida social comum e de sua transmissão de uma geração para outra."
/
"não são as técnicas específicas da psicanálise na interpretação de sonhos o que mais importa, mas sim ter ela chamado a atenção para o fato de quão impregnado de simbolismo está nosso mundo consciente."
p. 204
"A própria crença original de Freud na memória total agora parece mais um desejo fantasioso do século XIX de recapturar o passado e não tem, certamente, base científica alguma, muito embora tenha tido tanta influência que a maioria das pessoas parece 'acreditar que todas as lembranças são potencialmente recuperáveis'."
p. 204 a 205
"A lição importante é aprender a estar atento àquilo que não está sendo dito, e a considerar o que significam os silêncios. Os significados mais simples são provavelmente os mais convincentes."
p. 205
"A maioria das pessoas conserva algumas lembranças que, quando recuperadas, liberam sentimentos poderosos."
p. 208
"Recordar a própria vida é fundamental para nosso sentimento de identidade."
p. 209
"O fato de cada vez mais se darem conta, não só de que as pessoas eram úteis à história, mas que também a história podia ser útil para as pessoas, foi uma das origens principais do movimento de terapia da reminiscência que se tem difundido tão surpreendentemente nos últimos anos."
p. 211
"A questão fundamental, porém, foi uma tomada de consciência cada vez maior da "enorme arrogância", como a denominou Malcolm Johnson, de profissionais - de classe e geração diferentes, e de experiência de vida diferente - ao supor que podiam definir as necessidades de seus clientes sem primeiro compreender o diagnóstico que eles mesmos faziam da própria condição."
p. 212
"fora autorizado a desenvolver experimentos no uso de imagens para estimular idosos retraídos a falar e a responder. As primeiras imagens que usou eram artísticas, mas, depois, descobriu que figuras antigas de cenas e eventos [...] eram ainda mais eficientes."
p. 213
"o Recall desencadeia um tema de conversa; e uma vez reiniciada a comunicação, as pessoas se redescobrem como seres humanos."
/
"[que] a reminiscência deixe de ser um evento especial e simplesmente se torne parte da textura geral da vida". (John Adams)
[Não foram lidos os capítulos de 6 a 9, que se dedicam mais à prática da história oral do que a reflexões sobre memória]

Nenhum comentário: