quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Considerações acerca do artigo de Rusen

RÜSEN, Jörn. Razão Histórica. Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Tradução de Estevão de Rezende Martins. Brasília: ed. UNB, 2001. P. 149-171.

O cap. IV do livro de Rüsen intitulado “A Constituição Narrativa do Sentido Histórico”, proporciona uma reflexão acerca da importância do que o autor chama de “paradigma narrativista” para o pensamento histórico, considerando que o “pensamento histórico (...) procedimento mental de o homem interpretar a si mesmo e a seu mundo(...)” e que “narrar é uma prática cultural de interpretação do tempo, antropologicamente universal”(2001:149), o texto é construído na perspectiva de apontar para a complexidade do paradigma supra mencionado, destacando que “a narrativa foi concebida como um modo de explicação próprio à explicação histórica.
Em linhas gerais, o texto busca operar uma reconstrução das teorias da história, com vistas, ao que me parece, a delimitar suas características e o seu papel no ofício dos historiadores, quando recortam seus objetos de pesquisa, definem suas fontes e suas abordagens, assimilam um estilo à sua escrita da história e buscam inquirir e interpretar as sociedades passadas. Assim os questionamentos: como definir a questão do sentido na história? Como pensar a questão do progresso no processo histórico? Foram os problemas levantados pelo autor, e com os quais intentou apontar para caminhos possíveis de discussão do assunto.
Segundo Rüsen, o historiador articula suas reflexões dentro do que definiu como “Matriz Disciplinar” onde estariam agrupados cinco elementos: idéias, métodos, formas, funções e interesses. Para o autor uma “matriz disciplinar” é uma explicação teórica do tipo de “racionalidade da constituição histórica de sentido” (2001:161).
Ressalto a profundidade com que o autor discute questões referentes à racionalidade e ao uso do paradigma narrativista, e destaco a discussão que faz em torno da questão do Holocausto, bastante discutido por Hayden White (2006: 191-210) no texto “Enredo e Verdade na Escrita da História”, momento em que faz alguns questionamentos acerca do holocausto tais como: o nazismo e a solução final pertencem a uma classe especial de eventos? Possui enredos elaboráveis de uma só forma e significa apenas um tipo de sentido? As naturezas do nazismo e da solução final colocam limites absolutos no que pode ser verdadeiramente dito sobre eles? Colocam limites nos usos que podem ser feitos delas pelos escritores de ficção ou poesia? Para Rúsen “seria possível para o pensamento histórico em geral, mas igualmente para a elaboração interpretativa do holocausto, se a deficiência fundamental de sentido que se revela nele, sua absoluta falta de sentido como experiência histórica, se esgotasse nele” e conclui acerca da questão “o Holocausto representa, pois, uma qualidade de experiência na relação temporal tensa entre passado e presente, a ser devidamente levada em conta por um tipo apropriado de constituição narrativa de sentido.” O que, a meu ver aproxima o posicionamento dos dois autores em relação ao tema referente à narrativa histórica que, para Rüsen “poder levar em conta essa dialética negativa da constituição do sentido mediante um modo do narrar – pela recusa e pela inversão das estratégias tradicionais da narrativa que constroem a história a partir da experiência histórica, e mediante uma reflexividade intensificada do modo narrativo, com a qual se demonstra o alcance limitado dos critérios de sentido utilizados” (2001:173).

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