terça-feira, 18 de setembro de 2007

A EXPANSÃO ECONÔMICA DO VALE DO CORRENTES, EM MATO GROSSO DO SUL: UMA MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA PROMOVIDA PELAS FRENTES DE EXPANSÃO AGRÍCOLA (Pequena Introdução)

O tema deste trabalho é a questão da expansão agrícola, nosso objeto de estudo dentro desse tema maior é a expansão econômica do Vale do Correntes, em Mato Grosso do Sul, bem como a modernização conservadora que foi promovida pelas frentes de expansão agrícola.
Iniciamos tratando da agroindústria no Brasil, desde o período colonial, mostrando a montagem do sistema agroexportador instalado no território brasileiro.
Tratamos do cenário da agricultura no século XVIII e substituição desta em meados deste século pelo ouro, que foi o responsável pela ocupação do interior do território brasileiro.
Já no século XIX, ocorreram mudanças significativas na distribuição das atividades produtivas brasileiras, quando o açúcar perdeu mercado externo e o país modernizou a estrutura produtora do embrionário complexo agroindustrial para redirecionar a produção de outros bens. O advento do regime republicano, ainda neste século, proporcionou o crescimento econômico e a agricultura se industrializou, nasceram aí os complexos agro-industriais mais modernos.
A modernização conservadora ocorrida no setor agrícola nos anos de 1960 e 1970, provocou a expulsão dos trabalhadores rurais do campo. Esta modernização impulsionada em boa parte pelo Estado, na forma de créditos subsidiados, acabou controlando e direcionado a cultura canavieira.
Ao tratarmos da agricultura especificamente no estado de Mato Grosso do Sul, mostramos que esta esteve presente, mesmo que de forma bastante incipiente, desde o início da colonização deste estado, e com base em autores como Alcir Lenharo, mostramos que a tese de que a colônia de Mato Grosso estava isolado do restante do país é um mito que visa atribuir “heroísmo” e “virtudes” ao grupo representante do poder regional, em parte descendente e/ou de alguma forma relacionados com aqueles antepassados.
O século XVIII, em Mato Grosso, foi marcado por um período em que as atividades estavam voltadas para a mineração, o que fez com que o desenvolvimento agrícola e do pastoreio fossem inexpressivos.
A partir do século XIX, e com base em uma nova divisão internacional do trabalho, a província foi incumbida de abastecer os mercados europeus de gêneros agrícolas e demais matérias primas, foi nesse período que houve a proliferação dos núcleos açucareiros. O regime de trabalho era penoso e, pode-se dizer que se aproximou do regime escravista, pois mantinha-se sob bases compulsórias de trabalho, para sustentar baixos custos.
Nos anos de 1930, houve uma redução das agroindústrias mato-grossenses, pois o órgão criado pelo Estado (IAA) para gerir os assuntos relativos à produção de álcool não beneficiaram o Estado de Mato Grosso.
Visando aumenta a produtividade da região mato-grossense, e a sua integração no mercado nacional, foi lançado nos anos de 1930 e 1940, o programa “marcha para o Oeste”, que apregoava o deslocamento da população de trabalhadores rurais para o sertão, ou Oeste. Entretanto, o resultado dessa política de distribuição de terras resultou na formação de latifúndios, que passaram por um processo de industrialização, posteriormente com a junção de agricultura e indústria. Nesse contexto, de industrialização da agricultura, o ano de 1970, assistiu à valorização da agricultura pelo Estado, que via nesta a contribuição para a redução da crise econômica, empreendendo assim o aumento da produção de alimentos e matéria prima com o objetivo de combater a inflação e aumentar as exportações.
Com relação à agroindústria da cana, houve neste ano a criação do PROÁLCOOL, para aumentar a produção de agroenergéticos, entretanto os benefícios resultantes desse programa, foram aplicados para a satisfação dos interesses de poucos, isto com o apoio governamental, através de concessão de créditos subsidiados.
Em 1977, ocorreu a divisão do estado de Mato Grosso, e o presente estudo sobre a agroindústria canavieira se voltou para a região do vale do Correntes, onde está situado o município de Sonora, local em que, contando com os créditos estatais enumerados acima se instalou a Usina Aquárius, na atualidade chamada Companhia Agrícola Sonora Estância, beneficiada pelo processo de modernização promovido pelo Estado, se converteu em pólo expressivo dessa modernização conservadora, cuja conseqüência imediata foi a concentração de terras, a intensa pecuarização e a exclusão do trabalhador rural.
Na perspectiva do capital o processo de desenvolvimento econômico na região foi bem sucedido, porém, as contradições surgiram e as incoerências sócio-econômicas se expressam no quadro de desemprego, degradação ambiental e desrespeito com as comunidades indígenas e quilombolas.
Para realização deste estudo promovemos um debate entre várias correntes de opinião acerca do objeto de estudo além de entrevistas com indígenas mais velhos; com camponeses mais velhos expulsos e/ou expropriados do campo; com administradores de agro-indústrias da cana e da soja e frigoríficos; com engenheiros de produção das agro-indústrias; com médios e grandes proprietários de soja, cana e pecuária extensiva; com atacadistas; com trabalhadores rurais fixos, sazonais e diaristas; com o Sindicato dos Trabalhadores e com o Sindicato dos Produtores Rurais, além de entrevista com representantes de Associação Ambiental.
No decorrer do estudo, algumas dificuldades foram encontradas tais como: múltipla jornada de trabalho, recusa por parte de alguns entrevistados em dar informações. Caso não houvessem essas limitações, poderiíamos ter apresentado material mais amplo para aqueles que porventura desejarem dar continuidade aos assuntos referentes ao tema apresentado.

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