terça-feira, 18 de setembro de 2007

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO-MESTRADO EM HISTÓRIA
LINHA DE PESQUISA 1: TERRITÓRIOS E FRONTEIRAS: TEMPORALIDADES E ESPACIALIDADES.













A EXPANSÃO ECONÔMICA DO VALE DO CORRENTES, EM MATO GROSSO DO SUL : A PARTIR DA ERA VARGAS





Beatriz S. Oliveira Feitosa
















Cuiabá/MT – 2007








1) TEMA





A elevada concentração de terras, a expropriação e expulsão indígena e camponesa, o PROÁLCOOL (Programa Nacional do álcool) criado em 1975 pelo governo Geisel, os financiamentos estatais, na forma de créditos subsidiados para a grande produção, a modernização conservadora da agricultura, a super-exploração de mão-de-obra, inclusive indígena, as resistências rurais dos trabalhadores, o apoio do Estado e do poder político local, a iniciativa privada na forma de grande propriedade, são os condicionantes gerais, que compõem a realidade que nos propomos compreender.
A problemática mais importante que se coloca é a de entender os problemas no campo brasileiro, especificamente na região do extremo norte do estado de Mato Grosso do Sul, na região de fronteira com o estado de Mato Grosso. A questão agrária brasileira é decorrente do processo de colonização européia empreendido a partir do século XVI[1]. Caio Prado tratou da formação latifundiária brasileira, apontando o papel do Brasil no sistema exploratório internacional no qual estava inserido e que erro o de prover o mercado europeu de produtos tropicais. Para que se instalasse a lavoura canavieira, no território brasileiro, procedeu-se a uma destruição da cultura e da dignidade dos povos aqui existentes e dos negros vindos do continente africano, para trabalharem como escravos neste território. O que se seguiu a partir do nascimento da agricultura mercantil no Brasil foi o desrespeito contra o ser humano que passou a ser inserido como objeto naquele sistema econômico exploratório. A agricultura desse tipo no Brasil, teve seu início com a plantação da cana-de-açúcar que, para comportar os interesses do latifúndio, requeria vasta extensão de terra para o seu cultivo. Além disso, a escravidão do negro e do índio eram necessários para a satisfação de outros interesses mercantilistas e racista.
O campo começou a se industrializar e aos poucos passou a ser entendido como um conjunto de atividades econômicas que incluíam a terra como meio de produção[2], sob o capitalismo, a partir daí, ocorreu gradativamente, a formação dos complexos agro-industriais, o que não resolveu o problema do abastecimento interno do país, pelo contrário. A modernização dos latifúndios e a conseqüente formação do CAIs – Complexos Agro-industriais da atualidade, aliados a modernização da agricultura, o implemento de máquina e equipamentos modernos aumentaram a produtividade das grandes propriedades (que produza para alimentar o mercado externo), acabaram gerando exclusão social e aumentando o desemprego no campo e na cidade.
A partir de 1930, o Estado passou a controlar e dircionar melhor a cultura da cana. A fase inicial da ação do Estado no setor, está associada à crise açucareira de 1929,[3] momento que o país perdeu parcela do mercado exterior e necessitou deslocar ainda mais o açúcar produzido para o mercado interno, principalmente o açúcar nordestino, distante do principal mercado nacional, o Centro-Sul em expansão.
O retorno do Brasil ao comércio exportador, com envergadura, se deu a partir de 1960. a política que orientou o desenvolvimento da agroindústria canavieira no Brasil, nesta década, teve por objetivo o incremento das exportações de açúcar e a ampliação do parque industrial e das lavouras de cana. O favorecimento do Estado à iniciativa privada concentrada, alcançou outros setores da economia brasileira: a cultura da soja, por exemplo, assim como a cana-de-açúcar, a soja está inserida no complexo agroindustrial e recebeu o apoio do Estado que concedeu subsídios para a instalação de indústrias para o seu beneficiamento.
Durante a Ditadura Militar e a Nova República, o crédito rural subsidiado e os preços mínimos continuaram voltados primordialmente, para a modernização conservadora da agropecuária, finalmente, sob o Neoliberalismo, parcela do crédito rural ficou a cargo dos bancos privados e das agroindústrias.[4] Com a abertura econômica para o exterior, produtos agrícolas estrangeiros, ingressaram em grande quantidade no mercado nacional, criando uma crise agrícola, normalmente por serem melhores e mais baratos, mas, principalmente por causa da sobrevalorização do real frente ao dólar. Esse quadro passou a ser revertido quando a moída brasileira sofreu brusca desvalorização frente à moeda dos Estados Unidos, de 1998 em diante.
A manutenção do PROÁLCOOL, a exportação de açúcar, o crescimento da urbanização brasileira e a adição de álcool carburante à gasolina comum são mercado e ganhos atuais para a expansão da agroindústria canavieira, ma não para o trabalhadores rurais em geral, estes continuaram enfrentando os efeitos da expansão da modernização agrária conservadora, que PALMEIRA[5] chamou de modernização perversa. Quanto à agricultura canavieira, houve neste setor uma desvalorização do trabalho com o crescimento do número de bóias-frias. No município de Sonora que se encontra na região que é objeto do presente estudo, o desmprego já é uma realidade e se reflete em seus desdobramentos na exclusão de um grande número de trabalhadores dos postos de trabalho e na presença de andarilhos no perímetro urbano.
O meio ambiente e as pessoas não ficaram imunes a todos esses acontecimentos e passaram a ser penalizados, principalmente por causa das queimadas e dos subprodutos agro-industriais, por vezes jogados sem tratamento e impunemente no meio ambiente. A polêmica sobre as queimadas da cana e os impactos ambientais por ela causados tem apressado o processo de substituição dos cortadores por máquinas que fazem a colheita da cana sem queimá-la, o que inevitavelmente irá ampliar o número de desempregados.
Neste contexto de mazela sociais provocadas pela concentração de terras e modernização conservadora da agropecuária, pode-se afirmar que a solução não está nos complexos agro-industriais. Uma boa advertência, neste sentido, se põe com o clássico PRADO Jr.:

“... o primeiro e principal passo, no momento, para sairmos dessa situação ao mesmo tempo dolorosa e humilhante para nosso país é (...) a modificação das condições reinantes no campo brasileiro e a elevação dos padrões de vida humana que nele dominam. (...)”[6]




2) OBJETO


O objeto do projeto a ser desenvolvido é “Reflexos das Frentes de Colonização no Desenvolvimento Econômico da Região do Vale do Corrente no Extremo Norte do Estado de Mato Grosso do Sul”, inserido na área de História Econômica. O objeto inicial do trabalho é “ Introdução ao Estudo do Desenvolvimento da Mencionada Região”, ressaltando aí a necessidade de se compreender a formação do município de Sonora-MS, às margens do rio Corrente, limite geográfico entre os Estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.



3) OBJETIVOS


Este trabalho, tem por objetivo analisar processos relacionados a questões relacionadas à terra, à colonização e migração e suas relações com os conceitos de Fronteira, Zonas de Expansão, Zonas Pioneiras desenvolvidos por autores como Tânia Navarro Swain, Pierre Monbeig, Léo Waibel e José de Souza Martins em suas respectivas obras.[7]
Para Tânia Navarro Swain,

A apropriação da terra e a dominação da força de trabalho foram os pilares da concentração de riqueza no Brasil, a base do poder regional e o amparo ao Estado oligárquico. Dentro deste contexto, a pequena propriedade representa uma ameaça para o sistema estabelecido, tendo em vista o caráter monoexportador do setor dinâmico da economia que exige mão-de-obra abundante a custo pouco elevado, e novas terras férteis.(1988: 21)


Diante disso, objetiva-se estudar a história da região do Vale do correntes onde teve início o município de Sonora-MS, através de coleta de dados, recorrendo a pesquisa minuciosa sobre o tema da agricultura (que ao lado da pecuária é a atividade motora da região).
Outra preocupação é entender o emprego do trabalho indígena utilizado por muitos anos na região e até que ponto foi compulsório. Estudar as condições do mesmo, que segundo consta durou até cerca de dez anos atrás. Além das relações sociais que se processam na atualidade, com a migração dos nordestinos no período das safras.
Estudar os problemas ambientais decorrente da ação da agroindústria estabelecida na região (poluição do ar, água, solo).
Deseja-se ainda, compreender como através de subsídios concedidos pelo estado, promoveu-se uma concentração de terras e de renda, com a consequente expulsão do pequeno produtor e sua proletarização.
Ressalta-se ainda, a importância de estudar essas problemáticas considerando o espaço de representações que é própria da mencionada região pois é notória a emergência de novos objetos no seio das questões históricas: as atitudes perante a vida e a morte, as crenças e os comportamentos religiosos, os sistemas de parentesco e as relações familiares, os rituais, as formas de sociabilidade, as modalidades de funcionamento escolar, etc.. – o que representava a constituição de novos territórios do historiador através da anexação dos territórios dos outros. Daí corolariamente, o retorno a uma das inspirações fundadoras dos primeiros Annales dos anos 30, a saber, o estudo das utensilagens mentais que o domínio de uma história dirigida antes de mais para o social tinha em certa medida relegado para segundo plano.(p.14).[8]



4) JUSTIFICATIVAS


No final do século XIX, ocorreram mudanças significativas na distribuição das atividades produtivas brasileira, quando o açúcar perdeu mercado externo e o país modernizou a estrutura produtora do embrionário complexo agroindustrial para redirecionar a produção de outros bens. O advento do regima republicano, ainda neste século, proporcionou o crescimento econômico e a agricultura se industrializou, dando origem aos complexos agro-industriais mais modernos.
A modernização conservadora ocorrida no setor agrícola nas décadas de 1960 e 1970, provocou a expulsão dos trabalhadores rurais do campo. Esta modernização impulsionada em boa parte pelo Estado, na forma de créditos subsidiados, acabou controlando e direcionado a cultura canavieira.
Quanto ao Estado de Mato Grosso (no período anterior à divisão que deu origem ao Estado de Mato Grosso do Suol), constatou-se que a agricultura esteve presente sempre, mesmo que de forma bastante incipiente, desde o início da colonização. Considerando que:
“Durante todo o período colonial, o principal produtos de exportação de Mato Grosso foi o ouro. Embora a lavoura de cana-de-açúcar e a criação de gado tivessem sido introduzidas na região ainda na década de trinta do século XVIII, nenhuma dessas atividades conseguira desenvolver-se o suficiente para atingir a exportação. (...)”[9]

Com base em LENHARO[10], foi possível constatar que a tese de que a colônia de Mato Grosso estava isolada do restante do país é um mito que visa atribuir “heroísmos” e “virtudes” ao grupo representante do poder regional, em parte descendente ou de alguma forma relacionado com aqueles antepassados.
O século XVIII, em Mato Grosso, foi marcado por um período em que as atividades estavam voltadas para a mineração, o que fez com que o desenvolvimento agrícola e de pastoreio fossem inexpressivos.
A partir do final do século XIX, e com base em uma nova divisão internacional do trabalho, a província foi incumbida de abastecer os mercados europeus de gêneros agrícolas e demais matéria primas, foi nesse período que ocorreu a proliferação dos núcleos açucareiros. O regime de trabalho era penoso e, pode-se dizer que se aproximou do regime escravista, pois se mantinha sob bases compulsórias de trabalho, para sustentar baixos custos.
Nos anos de 1930, houve uma redução das agroindústrias mato-grossenses, pois o Instituto do Açúcar e do Álcool –IAA, criado pelo Estado para gerir os assuntos relativos à produção de álcool não beneficiaram o Estado de Mato Grosso.
Visando aumentar a produtividade da região e a sua integração no mercado nacional, foi lançado nos anos de 1930 e 1940, o programa “Marcha para o Oeste”, que apregoava o deslocamento da população de trabalhadores rurais nordestinos para o sertão ou Oeste. O resultado dessa política de distribuição de terras resultou na formação de latifúndios ao lado dos lotes coloniais que passaram por um processo de industrialização da agricultura a partir dos anos de 1980. A década de 1980 assistiu a valorização da agricultura pelo Estado, que via nesta a contribuição para a redução da crise econômica, empreendendo assim o aumento da produção de alimentos e matérias primas com o objetivo de combater a inflação e aumentar as exportações, sobretudo para honrar o serviço da Dívida Externa.
Com relação à agroindústria da cana, foi criado neste período o PROÁLCOOL, para aumentar a produção de agroenergéticos no sentido de se enfrentar a crise energética favorecendo o latifúndio, entretanto os benefícios resultantes desse programa foram aplicados para a satisfação dos interesses de poucos, isto com o apoio governamental, através de concessão de créditos subsidiados e garantia de preços mínimos.
A região a ser estudada foi palco de um processo de transformação, sobretudo graças ao processo de divisão do Estado em 1977. Nota-se que na mencionada região ocorreu um processo de modernização conservadora da agropecuária[11], cuja conseqüência imediata foi o aumento da concentração de terras em detrimento do trabalhador rural, inclusive dos grupos indígenas, cuja mão-de-obra foi largamente utilizada por um tempo significativo na região.
Na perspectiva do Capital, o processo de desenvolvimento econômico nessa região de fronteiras foi bem sucedido, porém, as contradições surgiram, e as incoerências sócio-econômicas se expressam no quadro de desemprego, degradação ambiental e desrespeito com as comunidades indígenas. Nos propomos explicar tal processo, na perspectiva científica e da comunidade regional.


5) PROBLEMATIZAÇÃO


No texto, “ A História Legal da Terra na Fronteira e a Questão da Autoridade”, FOWERAKER[12] trata da questão da ocupação de terras no Brasil, desde o período da ocupação colonial, passando pela discussão da Lei de Terras de 1850 e tratando da questão política que está intrinsecamente ligada à história legal das terras. O texto aponta o papel do posseiro nesse processo de ocupação.
Entretanto, para que seja possível tratar da questão de posse, propriedade e titulação é necessário que se compreenda a importância da terra no mundo contemporâneo, mais especificamente na sociedade brasileira atual, ressaltando-se a necessidade de fugir de um quase inexorável maniqueísmo do qual muitas vezes a tentativa de compreensão da realidade se torna vítima. Sendo assim, dentre as várias definições é necessário salientar uma mais contemporânea em que a terra é tida como: meio de produção e, considerando o caráter neoliberal que permeia todas as modernas relações, inclusive a relação do ser humano com a terra, o que se processa é a intensa mercantilização desse bem.
Nesse ponto é possível retomar a discussão acerca de posse que, no sentido original, é o resultado de um processo de ocupação a partir do qual se dá o assenhoreamento de coisa sem dono. Nesse sentido, o valor da propriedade assenhoreada seria o equivalente ao trabalho empregado na mesma, porém de acordo com o caráter neoliberal exposto anteriormente, a terra deixou de ter apenas o valor do trabalho nela empregado e passou a ser expediente de lucros através da especulação.
Aponta FOWERAKER (1982), que ocorreu uma mudança no com trole das terras devolutas, que por sua vez vão para o poder da iniciativa privada para o capital particular basicamente. Ressalta-se aqui a intrínseca relação entre terra e Poder. Na medida que o Estado transfere ou simplesmente facilita a aquisição de terras para os grandes grupos de interesses econômicos particulares, acaba por diminuir as possibilidades reais de o posseiro conseguir uma propriedade legal de terra. Esse expediente fez com que determinados grupos aumentassem seu poder se utilizando muitas vezes da força para alcançar seus objetivos, burlando desta forma o que está convencionado pela sociedade (lei).
FOWERAKER aponta que[13], a história da legalização das terras em mãos de particulares, é uma história política, e neste ponto é possível retomar a discussão do poder considerando que cargos públicos também são formas de amealhar poder e de utilizar a lei em benefício próprio. O peso maior da participação do Estado e como conseqüência do poder político na decisão sobre o controle das terras brasileira ocorreu, sobretudo, na forma de fomentos, bastante intensificados pelo governo entre os anos de 1940 e 1950, e que ainda estão presentes na atualidade, sob a forma de financiamentos bancários, crédito, micro-crédito e bolsas com fins variados.
No tocante ao tema específico do presente projeto, os mencionados fomentos estatais influenciaram enormemente na conformação econômica da região, pois no ano de 1975 foi instalada no Vale do Correntes uma Companhia Agrícola, responsável por um processo de expulsão e desapropriação do pequeno produtor que resultou num processo de concentração fundiária sem precedentes na região.
A interferência do Estado brasileiro no controle e direcionamento da cultura canavieira passou a ocorrer no início dos anos de 1930[14], mas a partir de 1960esse controle se deu com maior intensidade no Centro-Oeste. COSTA[15] mostrou que esta década foi o marco histórico inicial das transformações na agricultura, promovida por um determinado modelo de sociedade que se pretendia construir, no qual uma maior produção agrícola supostamente traria resultados positivos para a estratégia de desenvolvimento adotada. E isso não foi obtido nem em Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul, na perspectiva da maioria dos trabalhadores rurais destes estados.
A agricultura brasileira tem um problema chave, pois ao mesmo tempo que precisa fortalecer o mercado externo, necessita também aumentar a produtividade de bens de consumo interno. Porém, com a modernização conservadora da agricultura, tem-se uma redução no número de pequenas propriedades, que são as que produzem os bens de consumo interno, visto que nos “CAIs” o que prevalece é a produção em larga escala dos produtos de exportação e esses avançaram em área sobre a pequena produção. Segundo NASCIMENTO[16], o aspecto principal dessa “modernização via Estado”, promoveu uma expansão subsidiada do latifúndio, que se modernizou (mecanização, utilização de novos insumos), tornando-se capaz de produzir em larga escala, porém não houve geração de empregos correspondente e o que se efetivou foi a expulsão, quando não expropriação do trabalhador do campo. Este não é o ponto de vista de MULLER[17], para quem o complexo agro-industrial pode atender tanto o mercado externo quanto o interno na produção de gêneros de subsistência. Outro ponto de vista contrário ao de MULLER, pauta-se em PRADO Jr.[18], que ao defender a pequena propriedade, mostrou que o implemento de máquinas e equipamentos modernos (que visam principalmente a produção para abastecer o mercado externo) aumentou a exclusão social no campo, assim como o desemprego. A questão que pretendemos discutir é a degradação social, econômica e ambiental, promovida a partir do processo de concentração fundiária, que além de privilegiar um número restrito de pessoas é prejudicial ao desenvolvimento econômico da região, na medida que a pequena propriedade que vem perdendo espaço para os CAIs é aquela que produz majoritariamente os gêneros de consumo dos quais as pessoas necessitam.



6) HIPÓTESES


Houve na região a expulsão do índio e do trabalhador rural, pequeno proprietário e posseiro do campo para a instalação da agroindústria canavieira, da soja, além de criação extensiva de gado na região, para que o latifúndio em primeiro lugar se reproduzisse como parte da tradicional estrutura fundiária brasileira e depios se modernizasse, concentrando mais terras, riqueza e poder.
O trabalho indígena , em condições bastante insalubres, deve ter se constituído como elemento de acumulação primitiva, o que mostra descaso com qusetões sociais e com os direitos do ser humano.
Graves problemas ambientais, como queimadas nos canaviais e utilização indiscriminada de herbicidas e inseticidas nas fazendas da região. A acumulação da elite regional nos termos colocados vem promovendo a degradação humana (precarização do trabalho e desemprego) e ambiental (desmatamento, queimada, poluição hídrica).



7) LEITURAS DE REFERÊNCIA


Para o desenvolvimento do presente projeto, sustentamo-nos em termos bibliográficos em autores que analisam processos relacionados a questões da terra, da colonização e migração e suas relações com os conceitos de Fronteira, Zonas de Expansão, Zonas Pioneiras desenvolvidos por autores como Tânia Navarro Swain, para quem:

A apropriação da terra e a dominação da força de trabalho foram os pilares da concentração de riqueza no Brasil, a base do poder regional e o amparo ao Estado oligárquico. Dentro deste contexto, a pequena propriedade representa uma ameaça para o sistema estabelecido, tendo em vista o caráter monoexportador do setor dinâmico da economia que exige mão-de-obra abundante a custo pouco elevado, e novas terras férteis.(1988: 21)

No tocante à compreensão sobre fronteiras utilizamos os conceitos de criados por Waibel. segundo Waibel, a questão é se ainda “temos tais zonas pioneiras no Brasil e, em caso afirmativo, onde estão localizadas (...) o que exige uma melhor definição dos conceitos de frontier e pionner” (1979: 281).
Segundo Waibel, o conceito de pioneiro.

significa mais do que o conceito de frontiersman, i.é., do indivíduo que vive numa fronteira espacial Nem o extrativista e o caçador, nem o criador de gado, podem ser considerados como pioneiros; apenas o agricultor pode ser denominado como tal, estando apto a constituir uma zona pioneira. Somente ele é capaz de transformar a mata virgem numa paisagem cultural e de alimentar um grande número de pessoas numa área pequena. (Waibel, 1979: 282 emprega o conceito de pioneiro também para indicar a introdução de melhoramentos no campo da técnica e da vida espiritual)

Esse autor afirma, ainda, que :

só falamos de uma ‘zona pioneira’ (...) quando subitamente por uma causa qualquer a expansão da agricultura se acelera, quando uma espécie de febre toma a população das imediações mais ou menos próximas e se inicia o afluxo de uma forte corrente humana (Waibel, 1979: 282).
De grande relevância ainda para o presente estudo foram algumas obra de Martins (1997), para quem o termo fronteira, no Brasil, é tratado de forma particular por geógrafos e antropólogos. Para os primeiros, como um termo que designa uma zona pioneira ou uma frente pioneira. Os segundos, sobretudo a partir dos anos cinqüenta, definiram essas frentes de deslocamento da população civilizada e das atividades econômicas de algum modo reguladas pelo mercado, como frentes de expansão.
Na tentativa de explicitar melhor essa diferença Martins (1997) apresenta a posição assumida por diferentes autores, mas, nos limites desse estudo, restringimo-nos a apresentar as consideraçõers de Martins sobre os conceitos defendidos por Darcy Ribeiro, Pierre Monbeig, Roberto Cardoso de Oliveira, Arthur Nehl Neiva.
A designação de frentes de expansão formulada por Darcy Ribeiro, como “fronteiras de civilização”, tornou-se uso corrente até mesmo entre antropólogos, sociólogos e historiadores que não estavam trabalhando propriamente com situações de fronteira da civilização. Ela expressa a concepção de ocupação do espaço de quem tem como referência as populações indígenas, enquanto a concepção de frente pioneira não leva em conta os índios e tem como referência o empresário, o fazendeiro, o comerciante e o pequeno agricultor moderno e empreendedor.
Tais definições parecem apontar que a concepção dos antropólogos sobre a expansão é mais ampla, pois incorpora os índios, desconsiderados pelos geógrafos.
Pierre Monbeig define os índios alcançados (e massacrados) pela frente pioneira no oeste de São Paulo como precursores dessa mesma frente, como se estivessem ali transitoriamente à espera da civilização que acabaria com eles. A ênfase original de suas análises estava no reconhecimento das mudanças radicais na paisagem pela construção de ferrovias, das cidades, pela difusão da agricultura comercial em grande escala, como o café e o algodão.
A concepção de frente pioneira, para Martins,

compreende implicitamente a idéia de que na fronteira se cria o novo, nova sociabilidade, fundada no mercado e na contratualidade das relações sociais. (...) A frente pioneira é também a situação espacial e social que convida ou induz `a modernização, à formulação de novas concepções de vida, à mudança social. (Martins, 1997)
para Martins (1997), a fronteira é essencialmente o lugar da alteridade, do conflito de terras ou conflito social:

Na minha interpretação, a fronteira é essencialmente o lugar da alteridade. É isso que faz dela uma realidade singular, À primeira vista é o lugar do encontro dos que por diferentes razões são diferentes entre si, como os índios de um lado e os civilizados de outro; como os grandes proprietários de terra, de um lado e os camponeses pobres, do outro. Mas o conflito faz com que a fronteira seja essencialmente a um só tempo, um lugar de descoberta do outro e de desencontro (...) a fronteira só deixa de existir quando o conflito desaparece, quando os tempos se fundem, quando a alteridade original e mortal dá lugar à alteridade política, quando o outro se torna a parte antagônica do Nós...” (Martins, 1997).

No que diz respeito à localização das zonas pioneiras Waibel considera que

No Brasil as zonas pioneiras não são um fenômeno primário da conquista de novas terras, mas uma conseqüência da mesma. (...) Nestas áreas insuladas de mata os colonos penetraram não só a partir do leste, mas, também, do sul e do norte, e em parte do oeste, fazendo assim uma penetração pela retaguarda.(Waibel, 1997).

A partir da reflexão dos conceitos de fronteira, zonas pioneiras e zonas de expansão dos autores supramencionados, Martins (1997) se sente à vontade para fazer uma primeira datação histórica: adiante da fronteira demográfica ou da “civilização”, estão as populações indígenas que sofrem as conseqüências dos processos de expansão. Entre a fronteira demográfica e a fronteira econômica está a frente de expansão, isto é, a frente da população não incluída na fronteira econômica. Atrás da linha da fronteira econômica está a frente pioneira, dominada não só pelos agentes da civilização, mas, também, pelos agentes da modernização que se constituem em agentes da economia capitalista que vai além da economia de mercado. São agentes de mentalidade inovadora, urbana e empreendedora.


8) METODOLOGIA


1) Técnicas e procedimentos de pesquisa.
a) Entrevistas com indígenas mais velhos;
b) Entrevistas com camponeses mais velhos expulsos e/ou expropriados do campo;
c) Entrevistas com administradores de agro-indústrias da cana e da soja e frigoríficos;
d) Entrevistas com engenheiros de produção das agro-indústrias;
e) Entrevistas com médios e grandes proprietários de soja, cana e pecuária extensiva;
f) Entrevistas com atacadistas;
g) Entrevistas com Empaer e Emater;
h) Entrevistas com trabalhadores rurais fixos, sazonais e diaristas;
i) Entrevista com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais;
j) Entrevistas com o Sindicato dos Produtores Rurais;
k) Entrevistas com médicos do SUDS;
l) Entrevistas com pacientes do SUDS;
m) Entrevista com representantes de Associação Ambiental.
2) Debate entre várias correntes de opinião acerca do objeto de estudo.


9) BIBLIOGRAFIA


BRAY, Silvio Carlos; FERREIRA,Enéas Rente; RUAS, Davi Guilherme Gaspar. “As Políticas da Agroindústria Canavieira e o Proálcool no Brasil”. Marília, Unesp-Marília-Publicações, 2000.
CHARTIER, Roger.“A história cultural: entre práticas e representações”. Lisboa Rio de Janeiro, DIFEL Bertran Brasil, 1990.
COSTA, Dermeval Pereira da. “Um diagnóstico acerca das transformações recentes na agricultura brasileira: o caso da Usina Jaciara S/A”. Mimeo.
FOWERAKER, Joe. “A luta pela terra – a economia política da fronteira pioneira no Brasil de 1930 aos dia atuais”. Rio de Janeiro:Zahar, 1982.
LENHARO, Alcir. “Crise e Mudança na Frente de Colonização”. NDIHR-UFMT, Cuiabá-MT, 1982.
MARTINS, José de Souza. Fronteira. A degradação do outro nos confins do humano. São Paulo: Hucitec, 1997.
MONBEIG, Pierre. Os pioneiros. In: ____________. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. São Paulo: Hucitec-Polis, 1984. p. 139 – 164.
MULLER, Geraldo. “Cem anos de República: notas sobre as transformações estruturais do campo”. In: Revista de estudos avançados, v.03,n.07, São Paulo, USP/ICA: set/dez, 1989.
NASCIMENTO, Flávio Antônio da Silva. “Aceleração Temporal na Fronteira: estudo do caso de Rondonópolis-MT”. Tese de doutorado, São Paulo: História/FFSCH/USP, 1997, p.01 a 25.
PALMEIRA, Moacir.”Modernização, Estado e Questão Agrária”. In: Revista de Estudos Avançados. São Paulo (USP) IEA. Set/Dez. v.03,n. 07,p..87. 1989.
PRADO Jr., Caio. “História Econômica do Brasil”. Brasiliense, São Paulo, 43 ed. 1998.
SWAIN, Tânia Navarro. Fronteiras do Paraná: da colonização à migração. Brasília: Universidade de Brasília, 1988.
VOLPATO, Luiza Rios Ricci. “A Conquista da Terra no Universo da Pobreza”. São Paulo:Hucitec, 1987.
WAIBEL, Léo. As zonas pioneiras do Brasil. In: ___________. Capítulos de geografia tropical e do Brasil. 2ª Ed., Rio de janeiro: FIBGE, 1979. p. 279-311.

[1] PRADO Jr., Caio. “História Econômica do Brasil”. Brasiliense, São Paulo, 43 ed. 1998.
[2] MULLER, Geraldo. “Cem Anos de República: notas sobre as transformações Estruturais no Campo”. In: Revista de Estudos Avançados. V.03,n.07, São Paulo, USO/ICA: set/dez, 1989.
[3] BRAY, Silvio Carlos; FERREIRA,Enéas Rente; RUAS, Davi Guilherme Gaspar. “As Políticas da Agroindústria Canavieira e o Proálcool no Brasil”. Marília, Unesp-Marília-Publicações, 2000.
[4] Bray, Op. Cit.
[5] PALMEIRA, Moacir.”Modernização, Estado e Questão Agrária”. In: Revista de Estudos Avançados. São Paulo (USP) IEA. Set/Dez. v.03,n. 07,p..87. 1989.
[6] PRADO Jr.
[7] As obras referidas são:
a)MARTINS, José de Souza. Fronteira. A degradação do outro nos confins do humano. São Paulo: Hucitec, 1997.
b)MONBEIG, Pierre. Os pioneiros. In: ____________. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. São Paulo: Hucitec-Polis, 1984. p. 139 – 164.
c)SWAIN, Tânia Navarro. Fronteiras do Paraná: da colonização à migração. Brasília: Universidade de Brasília, 1988.

WAIBEL, Léo. As zonas pioneiras do Brasil. In: ___________. Capítulos de geografia tropical e do Brasil. 2ª Ed., Rio de janeiro: FIBGE, 1979. p. 279-311.


[8] CHARTIER, Roger.“A história cultural: entre práticas e representações”. Lisboa Rio de Janeiro, DIFEL Bertran Brasil, 1990.



[9] VOLPATO, Luiza Rios Ricci. “A Conquista da Terra no Universo da Pobreza”. São Paulo:Hucitec, 1987.
[10] LENHARO, Alcir. “Crise e Mudança na Frente de Colonização”. NDIHR-UFMT, Cuiabá-MT, 1982.
[11] PALMEIRA, Moacir. “Modernização, Estado e Questão Agrária” in: Revista de Estudos Avançados, São Paulo:IEA(USP), v.03, n.07, set/dez, 1989.
[12] FOWERAKER, Joe. “A luta pela terra – a economia política da fronteira pioneira no Brasil de 1930 aos dia atuais”. Rio de Janeiro:Zahar, 1982.
[13] O autor faz alusão a um problema brasileiros dos anos de 1980, que nos parece ainda muito pertinente aos problemas fundiários da atualidade. Nesta caso específico, acredita-se que o estudo desse autor é bem empregado na tentativa de compreender a formação latifundiária e excludente da região do Vale do Correntes.
[14] Bray; FERREIRA & RUAS. Op. Cit.
[15] COSTA, Dermeval Pereira da. “Um diagnóstico acerca das transformações recentes na agricultura brasileira: o caso da Usina Jaciara S/A”. Mimeo.
[16] NASCIMENTO, Flávio Antônio da Silva. “Aceleração Temporal na Fronteira: estudo do caso de Rondonópolis-MT”. Tese de doutorado, São Paulo: História/FFSCH/USP, 1997, p.01 a 25.
[17] MULLER, Geraldo. “Cem anos de República: notas sobre as transformações estruturais do campo”. In: Revista de estudos avançados, v.03,n.07, São Paulo, USP/ICA: set/dez, 1989.
[18] PRADO Jr. Op. Cit.

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